quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

RENOVAÇÃO...

 “...transformai-vos pela renovação da vossa mente ...”. Rom 12.1-2 

Cada situação nova que vivemos em nossa vida é a oportunidade que temos de descobrir novos valores, novas maneiras de encarar as dificuldades e resolver os problemas. Quando passamos por um momento de decisão, tristeza, angústia ou enfermidade, Deus nos dá a oportunidade de rever valores que até então acreditávamos que fossem imutáveis. Em nossa vida, nem todas as coisas devem ser inalteráveis, à exceção daquelas que podem nos dar mais saúde, disposição, força para o trabalho e que busquem, principalmente, colocar todas as coisas no centro da vontade de Deus.

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Nesta caminhada por mudança precisamos muitas vezes agir mais pela razão do que pela emoção. O texto de Paulo aos romanos fala-nos de um culto racional, de uma experiência que está além de um mero emocionalismo. A palavra racional no texto original grego é "lógicos", o que significa dizer que o uso dos nossos corpos deve ser caracterizado por uma devoção consciente e inteligente, resultado de uma vida que se dispõe a Deus, à Sua vida e ao Seu serviço.

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A fé bíblica não exclui a emoção, mas se sustenta na razão que nos aponta caminhos seguros sustentados na Palavra de Deus. Nesta caminhada de fé, muitas vezes precisamos mudar de hábitos, o que realmente pode não ser fácil. Muitas vezes precisamos aderir a novos conceitos e valores, no entanto, como o Apóstolo Paulo nos ensina é necessário que experimentemos a mudança em nossas vidas, uma renovação espiritual, física e mental.

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O teólogo João Calvino afirmava em seus sermões que “o evangelho não é uma doutrina da fala, mas de vida”, o que significa dizer que nossas ações devem sempre falar mais alto do que as nossas palavras. Nestes tempos em que as palavras mudam tão rapidamente e em que elas muitas vezes são questionadas, é indispensável que nos apeguemos à Palavra da verdade. A renovação da mente não deve estar condicionada somente ao que desejamos mudar, mas essencialmente àquilo que Cristo deseja mudar em nós. Esta mudança somente ocorre naqueles corações que sinceramente se devotam a mudança e esperam que ela ocorra a cada dia.

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Blaise Pascal certa vez afirmou que na nossa vida pode haver dois excessos perigosos. O primeiro deles é o excluir a razão e o outro é admitir apenas a razão. A igreja de Cristo haverá de se destacar na sociedade mais pelo seu testemunho sério e comprometido com a Palavra do que com as meras falações vazias que se difundem por aí. 

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Nossa sociedade é marcada pelo relativismo em todas as esferas da existência, afirmando que tudo pode ser questionado e mudado a qualquer tempo e cada um é plenamente capaz de criar seus próprios conceitos de vida e os direcionamentos que deseja tomar.

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Jesus certa feita afirmou que a verdadeira liberdade só é conhecida através da mensagem do evangelho “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Esta verdade libertadora se manifesta na Palavra e somente nela, e, a partir Dela, e, para Ela que devemos mudar.

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Não é tarefa fácil, afinal exigirá de nós constante esforço e empenho, no entanto, os resultados são recompensadores e eu e você já podemos desfrutar deles a partir de agora. Fique em Paz!

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Matheus Felipe Santiago.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Pipocas para o Eterno


O cultivo do milho de pipoca já acontecia em nosso continente há milhares de anos e quando os primeiros conquistadores europeus chegaram na América, já era muito utilizado entre os povos originários. Entre os usos mais comuns está o milho estourado, que é a pipoca. A palavra "Pipoca" se originou a partir do termo tupi pï'poka, "estalando a pele".
A pipoca também tem sido muito usada como metáfora de transformação pela qual todo o ser humano deve passar. Aplicando este exemplo a vida cristã, percebemos que o milho duro, diante do calor, rompe a sua pele e se transforma para uma nova realidade.
Podemos refletir no milho de pipoca como sendo cada um de nós, muitas vezes duros e indigestos, a princípio. Para ter sabor o milho cru precisa ser aquecido e por fim, transformado.
E então a gente pode pensar: como pode algo, parecido com uma flor, sair de dentro de uma semente tão dura? Pois é, presentes de Deus para nós! Se o milho estoura, vira pipoca, completa o processo e é transformado. Se não estoura e torra, vira piruá e para nada mais serve, a não ser, ser posto fora.
Piruá é aquele que por mais que a vida lhe mostre razões suficientes para a mudança e crescimento, não se transforma. Viver em Cristo é viver em plena e constante transformação. É a transformação pela renovação da mente (Romanos 12.1-2).
Se por um acaso a panela da vida, uma hora dessas, esquentar e formos levados ao limite, que estejamos prontos a crescer, mudar, melhorar, florescer. Sejamos, no sentido metafórico, pipocas transformadas para o Eterno!
Matheus Felipe Santiago

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Comer, beber ou qualquer outra coisa

"Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus" 1ª Cor 10:31.

Será que tudo o que eu e você fazemos é para a glória de Deus? Tudo mesmo?

Normalmente as pessoas separam as coisas da sua vida, denominando que estas pertencem a Deus e estas outras não. Muitos são os que crêem que algumas coisas podem ser vistas e ouvidas por Deus e outras não.

Separam, porque desde o momento em que iniciam a fé, não importando a idade, aprendem que para algumas coisas Deus se faz presente e para outras não.

Este ensinamento, ainda que errôneo, está presente naquelas afirmações que dizem, entre outras coisas, que o templo em que nos reunimos, por exemplo, é a casa de Deus. Ora, casa é o lugar onde alguém vive, logo, se o templo é a casa de Deus é porque é lá que Deus vive.

No discurso de Paulo em Atenas esta verdade fica bem elucidada quando afirma que o Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. (Atos 17:24).

No tempo da graça, nós, os que cremos e confessamos o nome de Cristo é que nos tornamos a casa espiritual de Deus, a habitação do Espírito Santo (1ªPe 2:5). Na verdade, Deus não pode estar limitado por espaço e tempo, afinal sua ação sobre o cosmo é atemporal, quer dizer, está longe de ser determinada pelo tempo humano.

Ainda que homens e mulheres tenham grande dificuldade em dimensionar a grandiosidade do poder de Deus, Ele se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, foi então que vimos a sua glória como do unigênito do Pai. (João 1:14).

Em Jesus o Pai se fez tempo presente, quer dizer, Ele mostrou que mesmo em toda a sua majestade e glória ele ocupa um espaço no tempo humano a fim de não mais ser visto como um ser transcendente acima da compreensão humana.

Jesus é Emanuel, Deus conosco, presente e caminhando conosco diariamente e em cada momento de nossas vidas. Quando subiu aos céus, Cristo afirmou-nos que enviaria o consolador (João 16:7) e que este testificaria dele, a fim de que em nada nos sentíssemos sozinhos e desamparados.

Se Deus em Cristo por meio do Espirito Santo se faz presente em nossas vidas e em cada momento dela, devemos, deste mesmo modo, fazer com que tudo nela seja para a Sua glória.

Não podemos separar as nossas vidas. Não podemos viver uma vida longe e próxima de Deus, uma hora como crentes e outra como não crentes. Simplesmente não dá! É impossível, porque a nossa vida agora está oculta com Cristo em Deus (Col.3:3), significa dizer que estamos unidos a Ele e somos identificados Nele.

Por isso a importante necessidade de buscarmos fazer todas as coisas para a glória de Deus, porque agora Cristo é conhecido através de nós, e nós mesmos nos reconhecemos em Cristo. Assim, Paulo enfatiza a necessidade de fazermos tudo para a glória de Dele.

O verbo “façais alguma coisa”, indica um presente imperativo e constante, apontando ainda uma ação habitual e rotineira. Sendo assim, desde o comer e o beber, funções rotineiras e ao mesmo tempo tão significativamente importantes para a nossa vida, ou até mesmo o fazer qualquer outra coisa, façamos tudo para a glória de Deus. Que assim seja na minha e na sua vida.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

“A forma como vivemos, são a expressão da sociedade na qual vivemos... ou você é feliz com pouco, com pouca bagagem, porque a felicidade está dentro de você, ou não consegue nada. Isto não é apologia a pobreza, mas apologia a sobriedade”. Pepe Mujica





quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Aylan Kurdi e o menininho de Dostoiévski

A imagem vinda à mente foi do conto de Dostoiévski (1821-1881) – “A árvore de Natal na casa do Cristo”, onde havia um “menininho”, como era chamado, com 6 anos. Aylan Kurdi, era o menino sírio de 3 anos encontrado morto numa praia da Turquia dias atrás. Os dois meninos estão separados por 139 anos, contudo, as denúncias são análogas e próximas de nós, mas invisibilizadas por muitos.
A morte de Aylan é fruto de uma guerra atroz na Síria há anos e recém-arrasada pelo “Estado Islâmico”. A família Kurdi, desesperada fugiu para não ser tragada pela guerra, mas acabou tragada pelo mar. Na história de Dostoiéviski, é denunciado um contexto social desumano, após o “menininho” se deparar com a morte da mãe num porão frio numa manhã de Natal. O “menininho” busca espaço numa sociedade abastada, contudo ignorante ao sofrimento alheio. Vê pessoas aquecidas e divertidas, mas ninguém o permite desfrutar um pouco de toda fartura. Aylan e o “menininho” retratam sociedades indiferentes e “encurvadas em si mesmas”.
O irmão de 5 anos e a mãe de Aylan, morreram na travessia infausta do mar, sendo o pai o único sobrevivente. Aliás, dezenas de crianças, homens e mulheres perecem pela inabilidade humana de procurar a paz e empenhar-se por alcançá-la. Creio que a comoção por Aylan teve a ver com o modo como ele foi encontrado na beira do mar, como se estivesse dormindo de bruços, enquanto o “menininho” de Dostoiéviski foi achado morto junto a um monte de lenhas. Tais histórias entrecruzam-se e apontam precisa reflexão sobre a humanidade e nossas expectativas sobre ela.
O consumismo desenfreado corre célere atualmente. O tempo presente coisifica pessoas e personifica coisas. É preciso refletir sobre os rumos da humanidade. Não podemos crer que isso seja um problema de lá, do Oriente Médio, da Europa ou de outro lugar. Tal realidade bate à nossa porta.
O “menininho” de Dostoiéviski reencontra sua mãe no céu, onde diz que lá terá o que não teve em vida, como a árvore de natal que ele viu na vitrine e não pode se aproximar. Existe um possível hoje e precisamos fazê-lo sem contemporizar, não vivendo tão concentrados na satisfação das vontades, nem tampouco exercendo uma fé apenas para o além, no imponderável céu.

Deste modo, hoje, ouviremos deles: “porque eu tive fome, e vocês me deram de comer; eu tive sede, e vocês me deram água; eu era um estranho, e vocês me convidaram para suas casas”. 

Publicado em 12/09/2015 no Jornal Notícias do Dia:

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A árvore de Natal na casa do Cristo. Fiódor Dostoiévski

Havia num porão uma criança, um garotinho de seis anos de idade, ou menos ainda. Esse garotinho despertou certa manhã no porão úmido e frio. Tiritava, envolto nos seus pobres andrajos. Seu hálito formava, ao se exalar, uma espécie de vapor branco, e ele, sentado num canto em cima de um baú, por desfastio, ocupava-se em soprar esse vapor da boca, pelo prazer de vê-lo se esvolar. Mas bem que gostaria de comer alguma coisa. Diversas vezes, durante a manhã, tinha se aproximado do catre, onde num colchão de palha, chato como um pastelão, com um saco sob a cabeça à guisa de almofada, jazia a mãe enferma. Como se encontrava ela nesse lugar? Provavelmente tinha vindo de outra cidade e subitamente caíra doente. A patroa que alugava o porão tinha sido presa na antevéspera pela polícia; os locatários tinham se dispersado para se aproveitarem também da festa, e o único tapeceiro que tinha ficado cozinhava a bebedeira há dois dias: esse nem mesmo tinha esperado pela festa. No outro canto do quarto gemia uma velha octogenária, reumática, que outrora tinha sido babá e que morria agora sozinha, soltando suspiros, queixas e imprecações contra o garoto, de maneira que ele tinha medo de se aproximar da velha. No corredor ele tinha encontrado alguma coisa para beber, mas nem a menor migalha para comer, e mais de dez vezes tinha ido para junto da mãe para despertá-la. Por fim, a obscuridade lhe causou uma espécie de angústia: há muito tempo tinha caído a noite e ninguém acendia o fogo. Tendo apalpado o rosto de sua mãe, admirou-se muito: ela não se mexia mais e estava tão fria como as paredes. "Faz muito frio aqui", refletia ele, com a mão pousada inconscientemente no ombro da morta; depois, ao cabo de um instante, soprou os dedos para esquentá-los, pegou o seu gorrinho abandonado no leito e, sem fazer ruído, saiu do cômodo, tateando. Por sua vontade, teria saído mais cedo, se não tivesse medo de encontrar, no alto da escada, um canzarrão que latira o dia todo, nas soleiras das casas vizinhas. Mas o cão não se encontrava alí, e o menino já ganhava a rua.

     Senhor! que grande cidade! Nunca tinha visto nada parecido, De lá, de onde vinha, era tão negra a noite! Uma única lanterna para iluminar toda a rua. As casinhas de madeira são baixas e fechadas por trás dos postigos; desde o cair da noite, não se encontra mais ninguém fora, toda gente permanece bem enfunada em casa, e só os cães,às centenas e aos milhares,uivam, latem, durante a noite. Mas, em compensação, lá era tão quente; davam-lhe de comer... ao passo que ali... Meu Deus! se ele ao menos tivesse alguma coisa para comer! E que desordem, que grande algazarra ali, que claridade, quanta gente, cavalos, carruagens... e o frio, ah! este frio! O nevoeiro gela em filamentos nas ventas dos cavalos que galopam; através da neve friável o ferro dos cascos tine contra a calçada;toda gente se apressa e se acotovela, e, meu Deus! como gostaria de comer qualquer coisa, e como de repente seus dedinhos lhe doem! Um agente de policia passa ao lado da criança e se volta, para fingir que não vê.
     Eis uma rua ainda: como é larga! Esmaga-lo-ão ali, seguramente; como todo mundo grita, vai, vem e corre, e como está claro, como é claro! Que é aquilo ali? Ah! uma grande vidraça, e atrás dessa vidraça um quarto, com uma árvore que sobe até o teto; é um pinheiro, uma árvore de Natal onde há muitas luzes, muitos objetos pequenos, frutas douradas, e em torno bonecas e cavalinhos. No quarto há crianças que correm; estão bem vestidas e muito limpas, riem e brincam, comem e bebem alguma coisa.   Eis ali uma menina que se pôs a dançar com um rapazinho. Que bonita menina! Ouve-se música através da vidraça. A criança olha, surpresa; logo sorri, enquanto os dedos dos seus pobres pezinhos doem e os das mãos se tornaram tão roxos, que não podem se dobrar nem mesmo se mover. De repente o menino se lembrou de que seus dedos doem muito; põe-se a chorar, corre para mais longe, e eis que, através de uma vidraça, avista ainda um quarto, e neste outra árvore, mas sobre as mesas há bolos de todas as qualidades, bolos de amêndoa, vermelhos, amarelos, e eis sentadas quatro formosas damas que distribuem bolos a todos os que se apresentem. A cada instante, a porta se abre para um senhor que entra. Na ponta dos pés, o menino se aproximou, abriu a porta e bruscamente entrou. Hu! com que gritos e gestos o repeliram! Uma senhora se aproximou logo, meteu-lhe furtivamente uma moeda na mão, abrindo-lhe ela mesma a porta da rua. Como ele teve medo! Mas a moeda rolou pelos degraus com um tilintar sonoro: ele não tinha podido fechar os dedinhos para segurá-la. O menino apertou o passo para ir mais longe - nem ele mesmo sabe aonde. Tem vontade de chorar; mas dessa vez tem medo e corre. Corre soprando os dedos. Uma angústia o domina, por se sentir tão só e abandonado, quando, de repente: Senhor! Que poderá ser ainda? Uma multidão que se detém, que olha com curiosidade. Em uma janela, através da vidraça, há três grandes bonecos vestidos com roupas vermelhas e verdes e que parecem vivos! Um velho sentado parece tocar violino, dois outros estão em pé junto de e tocam violinos menores, e todos maneiam em cadência as delicadas cabeças, olham uns para os outros, enquanto seus lábios se mexem; falam, devem falar - de verdade - e, se não se ouve nada, é por causa da vidraça. O menino julgou, a princípio, que eram pessoas vivas, e, quando finalmente compreendeu que eram bonecos, pôs-se de súbito a rir. Nunca tinha visto bonecos assim, nem mesmo suspeitava que existissem! Certamente, desejaria chorar, mas era tão cômico, tão engraçado ver esses bonecos! De repente pareceu-lhe que alguém o puxava por trás. Um moleque grande, malvado, que estava ao lado dele, deu-lhe de repente um tapa na cabeça, derrubou o seu gorrinho e passou-lhe uma rasteira. O menino rolou pelo chão, algumas pessoas se puseram a gritar: aterrorizado, ele se levantou para fugir depressa e correu com quantas pernas tinha, sem saber para onde. Atravessou o portão de uma cocheira, penetrou num pátio e sentou-se atrás de um monte de lenha. "Aqui, pelo menos", refletiu ele, "não me acharão: está muito escuro."
     Sentou-se e encolheu-se, sem poder retomar fôlego, de tanto medo, e bruscamente, pois foi muito rápido, sentiu um grande bem-estar, as mãos e os pés tinham deixado de doer, e sentia calor, muito calor, como ao pé de uma estufa. Subitamente se mexeu: um pouco mais e ia dormir! Como seria bom dormir nesse lugar! "mais um instante e irei ver outra vez os bonecos", pensou o menino, que sorriu à sua lembrança: "Podia jurar que eram vivos!"... E de repente pareceu-lhe que sua mãe lhe cantava uma canção. "Mamãe, vou dormir; ah! como é bom dormir aqui!"
     - Venha comigo, vamos ver a árvore de Natal, meu menino - murmurou repentinamente uma voz cheia de doçura.
     Ele ainda pensava que era a mãe, mas não, não era ela. Quem então acabava de chamá-lo? Não vê quem, mas alguém está inclinado sobre ele e o abraça no escuro, estende-lhe os braços e... logo... Que claridade! A maravilhosa árvore de Natal! E agora não é um pinheiro, nunca tinha visto árvores semelhantes! Onde se encontra então nesse momento? Tudo brilha, tudo resplandece, e em torno, por toda parte, bonecos - mas não, são meninos e meninas, só que muito luminosos! Todos o cercam, como nas brincadeiras de roda, abraçam-no em seu vôo, tomam-no, levam-no com eles, e ele mesmo voa e vê: distingue sua mãe e lhe sorrir com ar feliz.
- Mamãe! mamãe! Como é bom aqui, mamãe! - exclama a criança. De novo abraça seus companheiros, e gostaria de lhes contar bem depressa a história dos bonecos da vidraça... - Quem são vocês então, meninos? E vocês, meninas, quem são? - pergunta ele, sorrindo-lhes e mandando-lhes beijos.
- Isto... é a árvore de Natal de Cristo - respondem-lhe. - Todos os anos, neste dia, há, na casa de Cristo, uma árvore de Natal, para os meninos que não tiveram sua árvore na terra...
     E soube assim que todos aqueles meninos e meninas tinham sido outrora crianças como ele, mas alguns tinham morrido, gelados nos cestos, onde tinham sido abandonados nos degraus das escadas dos palácios de Petersburgo; outros tinham morrido junto às amas, em algum dispensário finlandês; uns sobre o seio exaurido de suas mães, no tempo em que grassava, cruel, a fome de Samara; outros, ainda, sufocados pelo ar mefítico de um vagão de terceira classe. Mas todos estão ali nesse momento, todos são agora como anjos, todos juntos a Cristo, e Ele, no meio das crianças, estende as mãos para abençoá-las e às pobres mães... E as mães dessas crianças estão ali, todas, num lugar separado, e choram; cada uma reconhece seu filhinho ou filhinha que acorrem voando para elas, abraçam-nas, e com suas mãozinhas enxugam-lhes as lágrimas, recomendando-lhes que não chorem mais, que eles estão muito bem ali...

     E nesse lugar, pela manhã, os porteiros descobriram o cadaverzinho de uma criança gelada junto de um monte de lenha. Procurou-se a mãe... Estava morta um pouco adiante; os dois se encontraram no céu, junto ao bom Deus.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Eu show o que show



É bem conhecida a máxima que diz: A propaganda é a alma do negócio. Não apenas das coisas, mas de pessoas e neste sentido a autopropaganda tem se tornado uma insígnia nas relações pessoais na atualidade (2015).
Na tentativa de receber atenção dos outros uma parcela expressiva da sociedade tem apelado para todo tipo de exposição pública, atraindo atenção para si a qualquer preço.
Na internet, há uma chuva de sites que especulam tanto a vida particular quanto a alheia e na televisão o que mais atrai as pessoas são as especulações sobre a vida alheia, especialmente os reality shows que expõe abertamente a vida dos seus participantes. É o tempo da autoespetacularização, afinal o que vale é ter uns poucos minutos de fama e reconhecimento público.
O mais interessante é que esta síndrome da autoespetacularização tem chegado de forma avassaladora na igreja evangélica brasileira quando até mesmo já são criados produtos específicos para esta “fatia gospel” do mercado brasileiro.
A grande verdade é que no público as pessoas parecem ser, mas é no privado que elas de fato são. É dentro de casa que você mostra quem realmente é, sem máscaras, apenas você mesmo. Fora de casa você é apenas aparência, que pode ou não ser o reflexo daquilo que vive no privado. Nesse caminho tenebroso muitas pessoas têm buscado a todo custo, esconder o caos da sua vida privada. Escondem-se nos discursos, nos bens, nas viagens, nas roupas, afinal, tudo vale quando o objetivo é parecer e não ser.
Com o avanço da tecnologia e com a constante e crescente possibilidade das pessoas se relacionarem apenas pela sua aparência ou por aquilo que possuem o obscurecimento, a ofuscação e até o desaparecimento da verdade se torna cada vez mais latente. É como usar um cosmético. Você usa com o propósito de reduzir a ação do tempo e da gravidade, tentando muitas vezes parecer ser aquilo que não é.
O termo cosmético provém da expressão grega kosmos que pode significar tanto o mundo ao redor, como algum tipo de adorno (enfeite). O caos, portanto, é o contrário do kosmo, que significa grande confusão ou desordem. Na tentativa de encobrir as nefastas confusões e desordens do cotidiano, muitos procuram se revestir com o melhor que possam adquirir ou parecer. É uma tentativa desesperada e angustiante de abrandar o Caos de suas vidas.
Na verdade os cosméticos apenas aprimoram a aparência de uma pessoa por fora, mas não intimamente. Você é o que é, e não há nada neste mundo, humanamente falando, que possa mudar o seu interior. Em 1ª Cor 7.31 lemos que a “...aparência deste mundo passa”, mostrando-nos que tudo o que se relaciona com aquilo que há no mundo em que vivemos um dia passa, sucumbe, acaba, se dissipa, afinal “Toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor” (1ªPe 1.24).
Assim, é bem melhor é conhecer a Verdade e por ela ser liberto, deixando de lado a aparência que é vil e fútil e passar a viver em plena transparência de vida. A afirmação de Cristo é factual: “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Esta Verdade nos adverte com a excessiva preocupação com o exterior e nos aponta o caminho para uma nova vida que valoriza a essência do ser e que liberta a humanidade do penoso e opressor jugo da aparência.
Libertemo-nos da aparência, busquemos a essência e vivamos em paz!

Matheus Felipe Santiago

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Venda de igrejas aquece mercado imobiliário

http://www.swissinfo.ch/por/Capa/Archive/Venda_de_igrejas_aquece_mercado_imobiliario.html?cid=5815986

Cada vez mais igrejas na Europa são vendidas a outras religiões ou interessados do mercado privado. Também na Suíça a prática está se tornando cada vez mais comum. Até então as vendas de antigos tempos eram casos isolados. A Igreja Católica e a Protestante têm diferentes regras para o negócio. "Sejam bem-vindos ao meu lar". Philippe Saltarski nos saúda com simpatia. Sua casa está localizada em Le Locle, uma pequena localidade nas montanhas do cantão de Neuchâtel (oeste da Suíça). A mudança ocorreu apenas há poucas semanas. Por isso a sala de estar ainda está um pouco vazia. Uma fila de bancos de madeira espera ser levado ao depósito de lixo. Um antigo órgão foi colocado num canto do salão e ninguém parece ter interesse em utilizá-lo. O sol atravessa as janelas, das quais algumas estão pintadas, e ilumina o ambiente. O visitante até sente um pouco da mística que ainda paira sobre o local. As características incomuns da casa podem ser facilmente explicadas: até pouco, ela era mais um dos templos da Igreja Nova Apostólica na região. Saltarski, um jovem empresário, a comprou em dezembro de 2006 por 280 mil francos. Os padres da congregação, cujo número de membros passou em poucos anos de 100 para 20, não tinham mais recursos para pagar pela manutenção do templo. O mesmo destino sofreu em 2006 o templo de St. Leonhard da Igreja Protestante em St. Gallen (leste da Suíça). Um arquiteto a comprou por "apenas" 400 mil francos. Razão: o prédio necessitava de reformas urgentes orçadas em milhões de francos, o que para a pequena congregação ultrapassava diversas vezes o seu orçamento.

CADA VEZ MENOS PARÓQUIAS

A venda de igrejas ocorre atualmente em toda a Europa. Na Inglaterra, Alemanha e na Holanda templos são reformados e transformados em museus, bibliotecas, cinemas e até mesmo discotecas. Algumas das igrejas também terminam sendo utilizadas como mesquitas pela comunidade islâmica crescente.Na Suíça o fenômeno ainda não havia atingido a mesma proporção dos vizinhos do norte. "Nós tentamos manter as igrejas e suas características, podendo usá-las esporadicamente para atividades como concertos ou exposições", explica Simon Weber, porta-voz da Congregação de Igrejas Protestantes. "A venda de templos ainda é uma exceção", reforça Walter Muller, porta-voz da Conferência de Bispos da Suíça. As declarações não podem, porém, esconder o fato de que as duas religiões perderam um grande número de fiéis nos últimos anos. Em 1970, 95% dos suíços ainda declaravam ser católico ou protestante. Em 2000, esse número passou para 75%. Como no país dos Alpes as igrejas são financiadas pelos próprios membros de cada congregação, a dissociação deles significa automaticamente menos recursos. "Mais dramático do que a perda de fiéis é somente a falta de vocações, ou seja, não há mais padres", confessa Muller. "Ou nós precisamos procurar uma nova utilização para a igreja que não é mais ocupada, ou necessitamos vendê-la". Apesar dessa realizada, o representante dos católicos se apressa em explicar que a venda não ocorre a qualquer preço.

REGRAS FUNDAMENTAIS

Em julho a Conferência de Bispos da Suíça publicou as normas e recomendações a serem utilizadas no caso da mudança de utilização de um templo da Igreja. Para ela o mais importante é evitar a "banalização" dos lugares que antes haviam sido sagrados."Mesmo se igrejas ou capelas deixam de ser lugares de culto, elas permanecer ao olhar da maioria dos fiéis como algo de importância simbólica e litúrgica", avalia Muller. Por essa razão a Igreja Católica determinou que as construções necessitam ter uma nova utilização, depois da sua venda, que esteja de acordo com os princípios cristãos e éticos.A primeira prioridade é vender os templos não mais utilizados a outras congregações religiosas. Por exemplo, o mosteiro franciscano de Arth (no cantão de Schwyz, na Suíça central) foi vendido à Igreja Ortodoxa Síria. Caso uma utilização nesse sentido não seja possível, os responsáveis analisam outras formas mais "profanas". Porém nesse caso também existem regras estritas a seguir: o respeito pelos princípios cristãos. Exemplos seriam utilizar as igrejas como espaços para atividades sociais ou culturais. "Transformar um templo numa discoteca é para nós algo de incogitável", declara o porta-voz da Conferência de Bispos.Também a reutilização dos templos como mesquita está fora de questão para a Igreja Católica. Justificativa: a venda não pode ocorrer para religiões que não sejam cristãs. "Preferimos demolir completamente a construção caso o seu caráter sagrado não possa ser preservado de alguma forma".

PROTESTANTES MAIS FLEXÍVEIS

O problema da reutilização dos templos não existe para os protestantes. "Não precisamos de regulamentos para vender templos que não são mais necessários", declara o porta-voz da Congregação de Igrejas Protestantes. Também a Igreja Nova Apostólica de Le Locle não fez exigências especiais a Saltarski. O jovem empresário fala mesmo abertamente sobre suas idéias como reformar o antigo templo para transformá-lo num confortável e espaçoso apartamento, possivelmente até mesmo com um bar próprio. Curiosamente apenas um banco não se mostrou muito feliz com as idéias de Saltarski. Eles recusaram o crédito para as reformas. A justificativa dada pelo gerente foi mais do que lapidar: "A reforma de uma igreja em uma casa privada é um projeto pouco típico". swissinfo, Anna Passera.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Obediência em ação!



A vida cristã é um exercício diário. Exercitamos a fé, que é um dom de Deus, a fim de que sempre sejamos achados sobre os cuidados do Pai. Se, portanto esta vida cristã é um exercício precisamos treiná-la a fim de que não percamos a destreza dos atos e gestos que são comuns e peculiares àqueles que desfrutam desta nova vida em Cristo.

João Calvino certa feita afirmou que “em vão se tentam novas modalidades de obras para ganhar-se o favor de Deus, Cujo culto genuíno consta só de obediência”. A origem do pecado no coração do homem e da mulher sucedeu da desobediência. Hoje em dia a desobediência ainda continua a ser o maior obstáculo da vida cristã, visto que é o motivo pelo qual as pessoas ainda mais sofrem em seus equívocos espirituais e morais.

Como tentativa de minimizar os pertinazes e funestos resultados do pecado e do afastamento de Deus, muitos têm criado falsos mecanismos espirituais acreditando que estes podem, de alguma forma, intervir em favor daquele que os realiza. Estes mecanismos espirituais são os cultos centrados mais nas pessoas do que em Deus, romarias, campanhas de oração (da vitória, dos empresários, da prosperidade, etc.), objetos e amuletos que são tidos quase que supersticiosamente por muitos crentes que acreditam que isto ou aquilo lhes possa trazer algum privilégio e poder.

Somado a isso, nosso País assiste a uma onda crescente de novas religiões que tentam trazer elementos da cultura judaica, onde é comum encontrar pessoas desfilando com arcas da aliança, falsos pastores vestidos como sacerdotes e construção de templos suntuosíssimos, quando tentam substituir a obediência à Palavra por preceitos humanos vazios e sem amparo bíblico.

Quando o apóstolo Pedro orienta seus leitores a “estar sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.15), a palavra “responder”, no original grego é apologia, que também pode significar “defesa ou justificação”. Então, somos chamados a nos preparar para fazer uma defesa segura de nossa fé. Esta defesa segura é cada vez mais necessária e indispensável nos dias que seguem (2015), e ela só pode acontecer na medida em que buscamos com diligencia um conhecimento profundo das Escrituras, e não apenas parcial.

Precisamos na época presente, mais do que nunca, de crentes bereanos como os de Atos 17. Os crentes de Beréia eram atentos à pregação e à Palavra, e possuíam ouvidos exigentes, por isso, procuravam ler as Escrituras para ver de fato se aquilo que estava sendo dito era biblicamente certo. Do mesmo modo, viver em Cristo constitui viver em obediência e obediência em ação. Não é apenas se dizer obediente, mas agir como tal. Não é apenas ser um cristão nominal nem tampouco mediano, que está contente com sua fé e acredita que o máximo que Deus pode realizar é aquilo que ele tem experimentado de Deus em sua vida.

Ao mesmo tempo é imperativo que permaneçamos cautelosos e com os olhos e ouvidos sempre dispostos para apresentar ao mundo a razão da esperança que existe em nós exercitando a cada dia, nossa obediência a Deus em plena e absoluta ação.

Portanto, mãos à obra!

domingo, 26 de abril de 2015

Nos Braços do Bom e Verdadeiro Pastor


Nos Braços do Bom e Verdadeiro Pastor trata sobre a parábola de Jesus em que ele se intitula o Bom Pastor conforme o evangelho de João capítulo 10. Neste modelo Jesus transmite aos seus ouvintes o seu interesse pelas multidões e destaca que o verdadeiro pastor é aquele que oferece a sua vida às ovelhas, as conhece pelo nome e intimamente e que busca a unidade do rebanho em toda e qualquer circunstância. O texto traz uma reflexão crítica ao modelo de massificação de igrejas presentes nos dias atuais no Brasil (2015).

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Por que vou à Igreja!


Então você me faz a seguinte pergunta... Por que você vai à igreja? Como pode você ir a um lugar tão “retrógrado”, “estranho” e “alienante”?
Ao longo dos anos tenho visto muitas pessoas não ter em grande conta a igreja ou mesmo a fé alheia. Talvez tenham tido alguma decepção religiosa ou mesmo por acreditarem na inabilidade da igreja e daqueles que nela vão.
Não sei ao certo quando foi a primeira vez que fui a uma igreja, mas acredito que com poucos dias de vida meus pais tenham me levado. Desde então, ao longo de 35 anos tenho participado e me envolvido em tantas coisas da vida religiosa que certamente não conseguiria enumerá-las aqui. Mas mesmo assim, durante os anos da minha vida, que acredito ser curta, tenho vivido uma vida normal como qualquer outra pessoa.
Estudei em algumas escolas, fui aos escoteiros, fiz aula de Karatê e Judô, participei uma única vez de uma corrida de rua e me senti o máximo por ter ganho uma medalha de participação. Acampei, pesquei, fui ao cinema, andei muito de bicicleta, fiz muitas cabanas atrás da minha casa, subi em árvores, levei muitos pontos pelo corpo por conta de quedas, me cortei no arame farpado, pesquei, tomei banho de mar e lagoa, fiz faculdade de Teologia e de História, namorei e me casei. Etc...
Hoje em dia, eventualmente, eu e minha esposa recolhemos cães e gatos de rua, castramo-los e doamos para pessoas de bem que tenham consciência de cuidado e proteção do mundo em que vivemos. Enfim, nunca me senti estranho ao mundo, pelo contrário, sempre fui tão igual aos outros seres humanos.
Muito embora eu e meus quatro irmãos tenhamos sido criados em uma igreja protestante, nossos pais nunca nos alienaram do mundo, pelo contrário, deram-nos bom senso e capacidade de discernimento, e nós, somos muito gratos por isso.
Por que então estou dizendo tudo isso? Só para informar que além de todas estas coisas fiz e faço durante minha vida eu também fui e ainda vou a uma igreja. Mais... sou pastor presbiteriano há 11 anos e não me envergonho em nada por ser o que sou. Se sou, é porque escolhi ser e sou feliz por isso. Continuo a ir na igreja e a fazer o que faço por escolha minha e não porque sou compelido a isso.
Tenho dezenas de amigos que vão a igreja e outras dezenas que não vão. Respeito as diferenças e não julgo as pessoas por suas escolhas e decisões. Nosso Brasil é um Estado laico, quer dizer, que não possui religião e que, portanto respeita e defende o direito de todo e qualquer tipo de crença. Não me sinto, em nada, distante do mundo, e alienado dele.

Meu nome é Matheus, sou filho, irmão, tio, sobrinho, neto, um dia serei pai, e enquanto sou e serei todas estas coisas eu apenas sou o que sou.

RENOVAÇÃO...

  “...transformai-vos pela renovação da vossa mente ...”. Rom 12.1-2   Cada situação nova que vivemos em nossa vida é a oportunidade que t...